Contrabandistas, gordinhas... heroínas
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Contrabandistas, gordinhas... heroínas
"Os homens que faziam contrabando na fronteira falam do passado com presunção. As mulheres não. Elas nem percebem a quem é que pode interessar a sua história. Aquela era uma luta do dia-a-dia. Arriscavam quase tudo para sustentar a família. Por isso é que as considero heroínas."
As palavras são de Diana Gonçalves, 23 anos, cineasta galega, filha de mãe brasileira e de pai português. Numa forma: uma mulher da raia. A alcunha que se dá a si mesma fez o título do seu documentário de estreia. Mulleres da Raia (em galego) foi lançado em 2009 e valeu à jovem realizadora o prémio do Festival Caminhos.
A ideia partiu de uma história que a avó lhe contava na infância. "Era a das trapicheiras, as mulheres que escondiam comida nos aventais e a transportavam pela ponte entre Portugal e Espanha para a vender", conta. "A imagem ficou-me gravada na memória até hoje."
Diana entrevistou mais de uma dezena de mulheres nas aldeias da serra da Peneda para contar a história das trapicheiras. Desde os anos 1940, enquanto os homens tentavam levar mercadorias pesadas - sacas com 50 quilos de café - nas barcas pelo rio, as mulheres faziam o intercâmbio de produtos pequenos. "Estamos a falar de rebuçados, chocolates, peixe e ovos", explica a cineasta. "Elas tinham uns aventais cheios de bolsos, aos quais chamavam madranas, para dissimular. Mas é óbvio que mesmo as mulheres magrinhas ficavam muito gordas."
As contrabandistas eram revistadas dos dois lados da ponte por guardas e apalpadeiras. Na maior parte do tempo havia conivência e até por ordem oficial. "Nas aldeias todos se conhecem. Os guardas e os contrabandistas eram vizinhos e todos sabiam o que se fazia ali."
Mas, nestas fronteiras vigiadas, também havia lugar para vinganças e ódios pessoais. A história que mais a emocionou foi a de uma mulher que tentou passar com a filha recém-nascida no colo. "Era solteira, não tinha onde a deixar. Levou-a ao colo com os ovos escondidos no avental. Quando o guarda a viu, partiu-lhe os ovos e depois disse-lhe: 'Agora regressa a casa e tenta fazer este caminho outra vez amanhã.'."
A história das trapicheiras foi negada durante décadas por vergonha. Quando há alguns anos a câmara mudou o nome do largo que dá para a fronteira para o Largo da Trapicheira houve uma grande polémica em Valença. "As pessoas não aceitavam que estivéssemos a homenagear aquelas mulheres fora- -da-lei de quem só se queriam esquecer. Mas é curioso. Hoje quase todos mudaram de opinião."
IN: DN
As palavras são de Diana Gonçalves, 23 anos, cineasta galega, filha de mãe brasileira e de pai português. Numa forma: uma mulher da raia. A alcunha que se dá a si mesma fez o título do seu documentário de estreia. Mulleres da Raia (em galego) foi lançado em 2009 e valeu à jovem realizadora o prémio do Festival Caminhos.
A ideia partiu de uma história que a avó lhe contava na infância. "Era a das trapicheiras, as mulheres que escondiam comida nos aventais e a transportavam pela ponte entre Portugal e Espanha para a vender", conta. "A imagem ficou-me gravada na memória até hoje."
Diana entrevistou mais de uma dezena de mulheres nas aldeias da serra da Peneda para contar a história das trapicheiras. Desde os anos 1940, enquanto os homens tentavam levar mercadorias pesadas - sacas com 50 quilos de café - nas barcas pelo rio, as mulheres faziam o intercâmbio de produtos pequenos. "Estamos a falar de rebuçados, chocolates, peixe e ovos", explica a cineasta. "Elas tinham uns aventais cheios de bolsos, aos quais chamavam madranas, para dissimular. Mas é óbvio que mesmo as mulheres magrinhas ficavam muito gordas."
As contrabandistas eram revistadas dos dois lados da ponte por guardas e apalpadeiras. Na maior parte do tempo havia conivência e até por ordem oficial. "Nas aldeias todos se conhecem. Os guardas e os contrabandistas eram vizinhos e todos sabiam o que se fazia ali."
Mas, nestas fronteiras vigiadas, também havia lugar para vinganças e ódios pessoais. A história que mais a emocionou foi a de uma mulher que tentou passar com a filha recém-nascida no colo. "Era solteira, não tinha onde a deixar. Levou-a ao colo com os ovos escondidos no avental. Quando o guarda a viu, partiu-lhe os ovos e depois disse-lhe: 'Agora regressa a casa e tenta fazer este caminho outra vez amanhã.'."
A história das trapicheiras foi negada durante décadas por vergonha. Quando há alguns anos a câmara mudou o nome do largo que dá para a fronteira para o Largo da Trapicheira houve uma grande polémica em Valença. "As pessoas não aceitavam que estivéssemos a homenagear aquelas mulheres fora- -da-lei de quem só se queriam esquecer. Mas é curioso. Hoje quase todos mudaram de opinião."
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